quarta-feira, 30 de março de 2011

Internacionalismo africano


Após a violenta repressão da manifestação pela democracia realizada em Manzini passado dia 18, a COSATU (central sindical sul-africana) vai organizar no dia 12 uma marcha de trabalhadores pela Suazilândia dentro, em solidariedade com uma nova manifestação popular convocada para esse dia.


Ainda bem que não é para o Zimbabwe que os trabalhadores sul-africanos irão marchar, ou cá apareceriam as 3 ou 4 luminálias de sofá do costume a chamar-lhes fantoches dos ingleses e a vociferar contra a ingerência nos assuntos internos de estados soberanos…


(obrigado ao Carlos Serra, sempre em cima da jogada)

domingo, 20 de março de 2011

Citações de café (32)

«Com esta crise, vocês deviam era mandar aquela gente de volta para a terra deles», sugeria solícito um belga "branco", referindo-se a um grupo de portugueses "negros" e "mulatos" sentados ao lado, no café da esquina.

Há vida abaixo do Sahara

Eu bem sei que a maioria das pessoas que habitam em África, a sul do Sahara, são um bocado escuras de mais para os gostos e identificações afectivas de muitos comentadores entusiastas daquilo que se vai passando nas margens do Mediterrâneo ou do Golfo Pérsico.

Mas, já agora, se quiserem fiquem a saber:

- dia 17, a polícia do Togo dispersou uma manifestação de protesto contra o aumento das restrições ao direito de manifestação.

- dia 18, uma manifestação pela democracia no reino da Suazilândia juntou 10.000 pessoas, violentamente reprimidas por 20.000 (!) polícias e militares.

- dia 19, a polícia do Zimbabwe impediu um comício-vigília do primeiro-ministro Tsvangirai (!), com o argumento que o partido do presidente Mugabe também queria fazer um comício não muito longe.

- também dia 19, as autoridades do Senegal procederam a uma onda de prisões de oposicionistas acusados de planearem um golpe de estado, poucas horas antes de uma manifestação contra o presidente.

- Entretanto, a tensão continua no Burkina Faso e a Costa do Marfim continua à beira da guerra civil, desde que o "presidente" não aceitou a sua derrota eleitoral.

Há vida - e há protesto - abaixo do Sahara...

quarta-feira, 16 de março de 2011

O nojo!



Que o professor jubilado Aníbal Cavaco Silva nunca tenha dito uma palavra contra a ditadura do "Estado Novo" e justifique isso por não ser um menino rico e não se poder dar a esses luxos, revela-nos um cobardolas como muitos milhares, capaz de esconder essa característica por detrás da desvalorização e insulto aos que não se calaram.

Que, para aceder a um emprego, tenha escrito preto no branco estar em consonância com o regime vigente (o tal da altura), até pode ter constituído uma mentira ou semi-verdade, reveladora da falta de espinha vertebral ou da sua capacidade de fazer a sua vidinha, fosse qual fosse o regime político em que vivesse.

Que o presidente da república (desculpem a ausência de maiúsculas mas, hoje, não as consigo escrever) Aníbal Cavaco Silva tenha chamado ao 10 de Junho "Dia da Raça", até poderia ter sido, com muito boa vontade da parte de quem ouvisse, um lapso de quem tão facilmente se adaptou aos tempos da outra senhora.

Mas que em 2011 exorte "os jovens" (essa vaga entidade que de novo se tornou politicamente apetecível) a empenharem-se «em missões e causas essenciais ao futuro do país com a mesma coragem, o mesmo desprendimento e a mesma determinação com que os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação na guerra do Ultramar» vai para lá de qualquer imbecilidade, falta de cultura democrática ou de visão histórica.

É cuspir nos jovens de hoje, é cuspir nos jovens de ontem que foram obrigados a travar essas 3 guerras, é cuspir nos mortos e mutilados físicos e psicológicos que delas resultaram, é cuspir nos povos tiranizados pelo colonialismo e naqueles que contra ele se levantaram, é cuspir naqueles que derrubaram a ditadura tendo o fim dessas guerras como um dos seus três objectivos fundamentais, é cuspir no regime democrático que disso resultou e que este senhor é suposto presidir e representar.

Também por lá andou, como muitos? Sim. Mas isso não desculpa (tal como a sua declaração escrita de apoio à ditadura não o justifica) o branqueamento da história, desconfortável mas nossa, com base no próprio discurso fascista.

Este presidente não é apenas um erro de casting pela forma como se comportou antes de 1974 e pelas discordâncias políticas que com ele se tenham no presente.
De cada vez que abre a boca acerca do passado (ou de qualquer coisa que com ele esteja relacionada), fica mais claro que não foi apenas uma pessoa demasiado cobarde para criticar a ditadura, ou sequer demasiado conformista para se sentir desconfortável por viver nela.
Fica mais claro que é lá que estão as suas referências políticas e sociais profundas, e não no Portugal democrático em que, com todas as suas limitações, vivemos.

Nem vale a pena, suponho, lembrar as consequências que declarações como estas teriam em qualquer país democraticamente decente.
E, afinal, elas fazem com que saudar, no mesmo discurso, os «militares de etnia africana» pareça quase uma calinada irrelevante.

terça-feira, 15 de março de 2011

Lock-out, aquela coisa sexy

Tal como em 2008 (aqui, aqui, aqui e aqui), um lock-out de patrões da camionagem é, nos media, uma greve de camionistas.

E é provável que, tal como em 2008, o resultado seja o mesmo.

Afinal, se (para cobrir as asneiras governativas que se fizeram) se rouba quem trabalha, os reformados e os despedidos, mas se poupam os privilégios fiscais dos bancos e especuladores financeiros, porquê mudar de receita?

Assim como assim, o que se passou há uns dias atrás foi irrelevante; o pessoal há de amouxar. E, aqui entre a gente, quem governa não governa a vida de pessoas.
Governa outras coisas bem mais abstractas - assim a modos que o país, a pátria, ou o Terreiro do Paço, a zona de São Bento, ou quanto mais não seja o Largo do Rato.

Que a coisa seja uma greve de camionistas, então.

Debate sobre a Manif de dia 12, ontem, na Antena Aberta


RTP - ANTENA ABERTA

sexta-feira, 11 de março de 2011

"Os mercados", essa coisa racional...

Por altura da abertura da Bolsa de Lisboa, viam-se nas televisões imagens de um depósito de gás de uma refinaria japonesa a arder, em consequência do enorme abalo sísmico ocorrido pouco antes.

As acções da Galp sofreram uma quebra.

Que "os mercados" não rimam com sensibilidade é, suponho, um facto assumido e consensual.
Mas espero que menos pessoas fiquem a acreditar que rimam com racionalidade.

Um abraço de solidariedade ao povo japonês


E os meus agradecimentos por, com a seriedade dos seus regulamentos de construção anti-sísmica e a preparação das pessoas para actuarem em situação de catástrofes, terem transformado uma tragédia que há 100 anos representava centenas de milhares de mortos em custos humanos incomparavelmente inferiores.

Estou certo de que um povo que, há séculos, conseguiu transformar algo de tão aterrador como uma onda gigante numa das suas obras de arte mais apreciadas sairá por cima desta desgraça.

Gostaria que alguma coisa fosse aprendida, com isto, na minha terra. Mas temo que tal não possa passar de um whishful thinking.

quinta-feira, 10 de março de 2011

segunda-feira, 7 de março de 2011

Que farão com esta música?

Quando eu era um mais ou menos jovem professor de Introdução à Antropologia, tinha uma aula que me dava particular gozo, acerca dos usos subversores e de statement no humor musical.

A coisa passava pela audição do Via Com Me, do Paolo Conti...



... do Nois É Jeca Mais É Joia, dos Xangai...



... e da muito nacional Tourada.



A aula virava uma discussão geral interessadíssima e interessantíssima, em roda livre e sempre diferente de cada vez.
(E, na altura, nem sequer conhecia o Rock da Linguista Antropológica, dos Zuleika e os Confirmados, para juntar ao ramalhete.)



Hoje, é sintomático que o Público só tenha conseguido dar com um dia de atraso a notícia da vitória do A Luta É Alegria no Festival que deus quase tenha.

E que tenha sentido necessidade de se ir resguardar sob a chancela de especialistas, que pouco lhes disseram e com cujas palavras não souberam muito bem o que fazer.
É isso o mais curioso (e forte) da vitória desta canção, num certame a que já ninguém ligava, antes. O facto de ninguém (a começar pelos media) saber muito bem que raio fazer com ela.

O que, confesso, me dá um tremendo gozo.

domingo, 6 de março de 2011

Pergunta sem algibeira

Guardadas as enormes distâncias, em que canção do Zeca Afonso se foram os "Homens da Luta" inspirar para o seu bailinho?

Resposta:


Diz que a história se repete...

Quando eu tinha uns 10 aninhos, Fernando Tordo e Ary dos Santos levaram à Europa-sem-ser-connosco uma violenta sátira, aparentemente kitsh e inócua, do fim de festa da ditadura.



Os tempos (e as censuras bem mais subtis que as quadradonas da altura) já não exigem metáforas para acusar aquilo que é insustentável.
O que pode limitar a forma. Mas não limita o papel do humor, do sarcasmo e da auto-ironia.

Uma parelha humorística que goza com estilos revolucionários serôdios e com os baladeiros que conheciam dois acordes, para com isso gozarem com os importantes senhores que nos governam e, às vezes, com o "povo" ( que «quer é dinheiro para comprar um carro novo»), irá, por efeito do voto popular, levar à Europa-que-já-disseram-que-estava-connosco-e-agora-de-certeza-que-não-está-pelo-menos-na-Alemanha uma outra sátira kitsh do nosso imaginário, apelando a algo que voltou a ser sexy, por efeitos da margem sul do rio Mediterrânico.
A luta, a rua, a alegria.

Certamente, porque as coisas estão insustentáveis.
Talvez, por haver esperança (entre muito mais gente do que esperariam os aspirantes a ditadores eleitos) de que a luta e a rua, em alegria, sirvam de alguma coisa.



Não é um acaso, esta eleição de uma tal musiquinha.

Dizem que a história se repete, e cois'ital...
Mas, se da primeira vez já queria ser farsa, o que nos revelará agora?

Citações de café (31)

Há quantos anos não ouvias falar do Festival, camarada?



- Ainda acabamos todos de calças à boca de sino...

- Antes de calças à boca de sino que de tanga!

terça-feira, 1 de março de 2011

Uma conversa televisiva sobre albinos na África austral e as crenças de que são alvo

RTP - 4 x CIÊNCIA

... que, para os mais interessados, pode ser complementada por este artigo.

E andam vocês preocupados com a qualidade das "licenciaturas de Bolonha"?

Vocês são é uns picuinhas!

Inspirem-se, antes, nesta ideia corajosa e inovadora!