sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Ainda a crise que nos crisa

É uma brilhante e divertida abordagem destas crises e das suas raízes (infelizmente sem legendas - alguém as sabe e quer fazer?), que vai bastante mais longe, fundo e largo do que a minha velha favorita como primeira aproximação ao tema.

Que, já agora, vos re-apresento.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Treino conjunto com touros tem melhorado espectacularmente as marcas dos atletas de 3.000 metros obstáculos

O sistema, com o nome de código "black bull dá-te asas", parece contudo só resultar sobre tartan.
É que têm havido uns problemazitos quando os sovinas dos ganadeiros os querem, depois, reciclar para touradas.

O reciclado mais recente.

Um pioneiro.

Este, coitado, já estava reformado e sem grande força nas canetas.

domingo, 15 de agosto de 2010

Começo a sentir-me um Pereira que afirme alguma coisa...

Tem sido demasiado obituário, e demasiado justificado escrevê-lo, para o meu gosto.

Agora, foi Abbey Lincoln, com quem me cruzei pela primeira vez neste extraordinário disco e que, depois disso, aprendi a admirar como cantora e como activista.

Ouçam-na.

E, por favor, gentes que admiro, parem de morrer.

sábado, 14 de agosto de 2010

Gastronomia gourmet para o povo

Foi o encher da barriga e da despensa, em Pemba (norte de Moçambique), com uma baleia que deu morta à costa, na praia de Wimbe.

Baleias que são primas das sereias e portanto, conta-se por lá, das mulheres-do-mar que os portugueses perseguem mergulhando, violam no fundo do mar e a quem cortam depois a cauda - que comem sob o nome de bacalhau.
E que, neste caso, têm a vantagem de se poderem comer sem essa ambígua sombra de canibalismo luso.

Conforme chama a atenção o Carlos Serra, a cena do esquartejamento do cetáceo lembra descrições antigas acerca daquilo que se segue à morte de um elefante.
É que os animais gigantes são dádivas de comida, em torno dos quais urge juntar toda a gente possível, mais banqueteando-se do que tirando a barriga de misérias, antes que se estraguem.
E com isso, claro, reforçam-se laços, solidariedades e mesmo hierarquias (quem come que partes e por que ordem).
Será esse, também e ainda, o efeito numa cidade - mesmo com parte da carne a acabar vendida nos mercados?

O lado gourmet da coisa, entretanto, ainda me lembrou uma história bem político-económica do meu Alentejo natal.
Por lá, naquelas alturas do ano em que os pobres nada mais tinham para comer, davam em procurar as sofisticadas trufas.
Comida de pobre, então, tanto mais que os ricos as desprezavam por serem coisas selvagens desenterradas e por (esperteza ou ironia?) lhes ser dado um nome bem próximo do de uma parte anatómica pouco nobre.

Comer, às vezes, tem muito que se lhe diga.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Ia lá visitar pastores



Nesta quentura em que nada parece acontecr para além de fogos, vão continuando a chegar daqueles anúncios de morte que preferíamos não ouvir.

Desta vez, faleceu Ruy Duarte de Carvalho, antropólogo angolano que se espraiou também pela poesia, as artes plásticas e o cinema, mas de que recordo sobretudo Vou Lá Visitar Pastores, um livro de uma sensibilidade quase tão grande como o seu título.

Como se diz "tristeza" em Kuvale?

PS: estão alguns textos dele no Buala.

sábado, 7 de agosto de 2010

Deixem-o contar a ele

O documentário "O Segredo", sobre a fuga de Dias Lourenço do Forte de Peniche.
Não dá para afixar, pelo que terão que ver no YouTube...

1ª parte, aqui
2ª parte, aqui
3ª parte, aqui
parte final, aqui

faleceu António Dias Lourenço

É sobretudo conhecido pela sua fuga do Forte de Peniche, em 1954. Muito pouco daquilo que foram ele e a sua vida.
Neste momento, contudo, só consigo lembrar o homem bom.

De boleia no inspirado título do Daniel, aqui fica a minha sentida homenagem.


Um número bonito

Estando o contador de visitas a aproximar-se veriginosamente dos 50.000, decidi celebrar, oferecendo um exemplar autografado do meu último livro ao primeiro visitante que se identificar aqui na caixa de comentários, depois de passado esse número.

Boa leitura.

Cadáveres adiados - II

Alertado por um post do António Figueira para este pedaço de prosa de João Pinto e Castro no Jugular, não resisti a por lá deixar um comentário – que não resisto, agora, a partilhar convosco:


Não tenho nenhuma simpatia pelo corporativismo e quase impunidade dos magistrados (particularmente dos juízes), mas:

1. A separação de poderes é uma pedra basilar das democracias, tal como são entendidas nos países da matriz socio-cultural em que nos inserimos (vulgo “ocidentais”). Os casos em que esse princípio foi subvertido, mesmo que parcialmente, resultaram de (ou vieram a facilitar) subversões da democracia ou assumidas ditaduras. Mesmo nestas, a submissão do poder judicial ao poder executivo foram encaradas como inaceitáveis práticas de sonegação de justiça.

2. Nestes tais países, são raríssimos os casos onde juízes e/ou procuradores são eleitos – e, mesmo aí, só até determinados níveis. Independentemente dos méritos que possamos apontar, em abstracto, a essa solução, o resultado é, também e frequentemente, uma subordinação da sua actuação, prioridades e decisões aos calendários eleitorais. Para isso, desculpem-me, já basta a forma como a política é praticada pelos partidos “a sério”, como diz a Irene Pimentel, ou, se preferirem, por aqueles que têm fundadas expectativas de manter ou alcançar o poder governativo.

3. Os procuradores do caso Freeport, conforme é público e conhecido apesar da barragem de inverdades repetidas acerca do assunto (incluindo algumas declarações do PGR), pegaram no dossier em 2008, depois de ele ser deixado a cargo de um procurador de comarca, atafulhado de serviço e sem condições de investigação. Procurador que, no entanto, parece que foi procedendo às diligências possíveis.

4. O caso só passou para as instâncias que ele justificava quando a polícia inglesa suscitou suspeitas preocupantes, que foram tornadas públicas pelos “jornalistas sem princípios” britânicos, de que os seus colegas portugueses se fizeram eco. Caso contrário, é plausível supô-lo, lá ficaria no Montijo até apodrecer. Era o desejado por si?

5. Os procuradores foram, conforme confirmado no processo disciplinar que daí decorreu, pressionados por um colega hierarquicamente superior mas numa linha paralela à sua (e próximo do poder político), para arquivarem o processo e não multiplicarem diligências. Independentemente de quem tenha encomendado o sermão, é essa a sua visão de uma relação desejável e digna entre o poder executivo e judicial?

6. Enquanto estes procuradores procediam a averiguações, nas quais são teoricamente autónomos, o PGR e a Procuradora-Adjunta de quem eles dependiam afirmaram por várias vezes que um cidadão em concreto (José Sócrates de Sousa) não tinha culpas no assunto. Será este facto inusitado irrelevante para quem investiga?

7. Não se sabe o que entretanto aconteceu em privado, no relacionamento destes procuradores com os seus superiores hierárquicos ou outras figuras do Estado. Mas o carácter também ele inusitado de, no acordão, escreverem que não puderam fazer determinadas perguntas ao Primeiro-Ministro por tal ser impossível dentro do prazo que lhes foi superiormente imposto para o encerramento do processo, juntando ainda por cima as perguntas que consideravam necessárias, parece deixar poucas dúvidas acerca do que querem dizer e não quiseram explicitamente escrever: Que consideram que, sem resposta a essas perguntas, o caso não fica esclarecido. Que consideram que a prazo imposto os impossibilitou de tentarem apurar a verdade, sendo uma interferência fulcral no seu trabalho e, potencialmente, nas suas conclusões. É bonito da sua parte? Talvez não. É legítimo, civilizado, corajoso e responsável? Certamente.

8. Em resultado disso, o PGR com mais poderes desde sempre vem queixar-se que não tem poder nenhum e que o sindicato do ministério público é um lobby de interesses particulares e políticos. Ele, declarou a sua morte anunciada no cargo. Você vai ainda mais longe. Diz que o sindicato (e não o Conselho Superior, ou o PGR e seus adjuntos, ou os procuradores distritais, ou os restantes) é que decide o que é que se investiga e como se investiga. De onde lhe vem esse poder maquiavélico? Montou uma estrutura hierárquica paralela? São os seus corpos gerentes que criam os processos desconfortáveis para o poder político? Chantageiam os colegas para fazerem o que eles querem?

9. Não deixa de ser curioso que, reclamando afinal o poder judicial para o poder político (aquele que é eleito - segundo parece, a única forma de legitimidade que reconhece dentro do aparelho de Estado, mas que suponho não quererá aplicar às direcções-gerais, acessorias e quejandos), demonize a única estrutura eleita no âmbito do Ministério Público, embora não lhe pertença (isto porque, como sabe, só uma minoria do respeitado Conselho Superior é eleita, e só uma ínfima parte pelos seus pares). Mas isso é apenas curioso; o que é preocupante é a sua visão monolítica e totalitária do Estado.

10. Não deixa também de ser curioso que, quando um juíz abusivo e incompetente (é essa a tradução para português corrente dos “erros grosseiros” que lhe foram apontados em tribunal superior) assassinou politicamente Paulo Pedroso e, através disso, encurralou Ferro Rodrigues que os seus camaradas se apressaram a também apunhalar e substituir, não vociferaram tão alto acerca de maningâncias sindicais ou corporativas. Será que você também deu a sua facadinha?

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Back from Sines

Soube muito bem (e bem precisado estava...) esta semanita de férias, família e praia em Sines.

Com o enorme prazer, pelo meio, de uma apresentação do Um Amor Colonial pelo Luís Patta e pelo Joaquim da A Das Artes - aquela livraria que é um centro cultural e que tanta falta me fez, por ainda não existir quando lá vivi.


Houve até gente suficientemente atenciosa para, uma bela manhã, se dar ao trabalho de me recordar a razão que me tinha feito por lá andar, aquele par de anos.

A cidade está mais viva e o Festival Músicas do Mundo faz-lhe bem.
Mas parece que some things never change...