quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Vidigueira não é só vinhos brancos

(Que, por sinal, eram os favoritos do meu pai, há 30 e tal anos atrás, embora a produção da adega cooperativa lá do sítio, infelizmente, não me dê razões para dar continuidade a essa tradição familiar...)

Mas, então, a Comuna (perdão! Câmara Municipal) da Vidiguêra decidiu que, para ajudar a enfrentar esta crise que nos crisa, os seus trabalhadores com o salário mínimo passariam à categoria remuneratória seguinte, recebendo mais 18% de salário.
Mas, como o orçamento é limitado, as pessoas com cargos eleitos ou nomeados (presidente, vereadores e assessores), passariam a receber menos 10%.

Os presidentes de câmara e os vereadores mereciam receber mais do que recebem? Suponho que sim.
Esta medida tem laivos de populismo? Também é provável.

Mas, se aquilo que possa ser rotulado como populismo for feito à custa do bolso de quem decide (e que, neste caso, também precisa), o rótulo mais adequado passa a ser solidariedade social.
E, se se trata de paliativos locais que não resolvem o problema geral que os suscita, trata-se também de um nível de decência muito marcante e de uma visão do mundo que me enternece e entusiasma - mesmo se não é de esperar que o exemplo seja seguido.

O mê Alentejo e a minha esquerda (que inclui esta gente e outras, espalhadas em pelo menos dois partidos, e fora deles) continuam a ter coisas muito belas.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Há muitas maneiras de falar de SIDA...

... e, às vezes, até vale a pena prestar atenção.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Tardou uns dias, mas chegou

Confesso que já me estava a admirar com a demora.

Com uma catástrofe de tão grande dimensão no Haiti (país ligado ao estereotipo do vodu, por sua vez ligado ao estereotipo de culto demoníaco), mais tarde ou mais cedo tinha que aparecer um qualquer tele-evangelista estado-unidense a atribuir a tragédia a um castigo divino.
Foi o que fez Pat Robertson, com a criatividade suplementar de culpar todo um país e as suas «sucessivas maldições» por um «pacto com o diabo», feito pelos escravos durante a sua revolta vitoriosa contra os franceses.
Parece que o homem tentou depois emendar a mão, mas as declarações iniciais (e a fraseologia utilizada) não deixam margem para dúvidas.

A maldade quase demoníaca (de tão desumana) presente em tais declarações não me parece resultar de mera estupidez.

Decorre de uma visão do mundo partilhada pela igreja católica há poucos séculos atrás, e que ainda por aí anda entre muito bom padre.

Decorre, afinal, de uma contradição essencial em todos os movimentos que se reclamaram do cristianismo: do facto de as mensagens de Cristo (contraditórias elas próprias, é verdade) serem bem pouco compatíveis com a terrível divindade do Antigo Testamento.

E com o facto de os sucessos evangelizadores massivos (sejam eles mediáticos ou não) estarem ligados, não a deturpações, mas a interpretações legítimas daquilo que de pior nos ficou daqueles escritos mais antigos.
Parece que é mais fácil mobilizar seguidores para uma divindade interveniente, punidora e milagreira e para a responsabilização do diabo pelas nossas maldades e incapacidades, do que para a auto-responsabilização e a bondade.

Torna-se depois fácil ver, na assustadora senhora cuja foto abre este post, uma adoradora do diabo, portadora do pecado original dos seus revoltosos antepassados.
Sobretudo, se a tirarmos do enquadramento e do contexto - em que ela se torna uma assustada pessoa semi-soterrada em escombros e rodeada de cadáveres, talvez de familiares.



Livre-nos Deus, se existir, dos bem intencionados apóstolos da justiça divina!

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Uma entrevista engraçada

Quem se levanta cedo (ou deita tarde) poderá ver em breve uma entrevista mais longa que o habitual e que me pareceu ter saído bastante simpática e interessante.
O motivo imediato foi o meu livro Um Amor Colonial, sendo a conversa conduzida por Vítor Bandarra, a quem muito agradeço o convite.

O horário é que é adaptado a estas coisas da cultura e do "serviço público":
O programa passará na TVI na próxima 2ª feira às 6 da manhã, sendo repetido na TVI 24 no domingo seguinte, às 8 horas.

Não é caso para vos desejar insónias, mas aqui fica o aviso.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Saúde e Doença em Moçambique

Soube recentemente que o meu artigo "Saúde e Doença em Moçambique" (que passa pelas noções "locais" de doença, saúde e cura e pelas práticas curativas "tradicionais", mas também dá umas bicadas nos fossos pseudo-dialogantes que com elas mantém a biomedicina) já foi publicado na revista brasileira Saúde e Sociedade e está disponível aqui.

Críticas, opiniões e sugestões são, como sempre, bem-vindas.

(na foto, a concentração para o desfile do Dia Africano da Medicina Tradicional, em 2009)

Citações de café (23)

6ª feira, 8/1/2010, no café aqui da esquina:

«Agora, só me falta aparecer o meu filho lá em casa, a apresentar-me um gajo preto e sportinguista, a dizer que se vai casar.»

(ou de como se pode ser homofóbico, racista e benfiquista e, mesmo assim, ter sentido de humor)

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Parabéns a todos os defensores da universalidade dos direitos de cidadania!

Com uma bela foto da Paulete Matos e uma piada irónica e ternurenta do meu velho amigo Daniel.

O que também tem piada é que, se era argumentável (embora, penso eu, erradamente) que a restrição do casamento a pessoas de sexos diferentes não ferisse a Constituição, não existem dúvidas possíveis de que a explícita proibição de adopção por parte de casais homossexuais é inconstitucional.

Talvez essa questão nem precise, por isso, do autorização do nosso primeiro aos "seus" deputados para ser ultrapassada.
Talvez essa proibição abstrusa desapareça por mera via judicial...

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Villas-Boas in New York

Chegado até mim pelo Luís Patta, aqui fica esté vídeo sobre a última viagem de Luís Villas-Boas, acompanhada dos comentários de Laurent Filipe, que a registou.



"Após o meu regresso a Portugal, retomei um contacto mais regular com o Villas e apercebi-me que ele apresentava sintomas da doença de Alzheimer. Esta doença era-me familiar pois a minha sogra era presidente da Associação de Alzheimer nos EUA. Há vários anos que se falava nos EUA sobre a doença, os seus sintomas e as investigações cientificas avançavam. Em Portugal a doença não era conhecida e poucos médicos a sabiam diagnosticar.
Perante a iminente perda de memória do Villas, dediquei então uma parte do meu tempo a registar tudo o que podia das suas memórias, histórias e sítios. Um deles levou-me a convencer a Lena [mulher de Villas-Boas] a levar o Villas comigo a NY para aquela que sabia que iria ser a sua última viagem. Foi em Junho de 1994. Aproveitando a minha participação na IAJE Convention e no JVC Festival em NY, andei também pelos clubes e pelos sítios que o Villas tanto tinha frequentado e adorado. Ele falou com músicos, encontrou-se com George Wein, ouviu imensa música, muitos músicos vieram ter com ele contando histórias do Cascais Jazz e, sobretudo, o Villas relembrou todo um passado que ainda lhe era muito querido e próximo da desvanecente memória...
Regressámos a Lisboa e completei o material de NY com mais depoimentos e bastante material adicional. No total devo ter perto de umas 10 horas de material inédito.
Contactei a RTP e concorri a um subsidio do ICAM para fazer um documentário...mas, à “moda” Portuguesa... não houve nem resposta nem interesse...
A ideia era ter pegado naquele material e aproveitado para o integrar num extenso documentário que pretendia apresentar sobre o Jazz em Portugal. Já não sei em que condições está todo o material mas também já não tenho interesse em perder mais tempo com o assunto... That´s life!
Fica pois a pequenina homenagem (bem ao tamanho do país) mas, infelizmente, bem minúscula ao lado daquilo que o Villas quis e soube fazer..."

domingo, 3 de janeiro de 2010

Tudo e já

Já recuperado das épocas festivas e de um problema de saúde chato, desejo-vos um 2010 mais feliz, saudável, desfogado ($), justo, ecológico e bem sucedido naquilo que mais prazer vos der fazer.

Bem... acho que isto cobre tudo e já.